A Formação de estratégia como processo mental
Para
compreender a visão estratégica é necessário sondar a mente do estrategista. É
isto que propõe a Escola Cognitiva: chegar à esfera da cognição humana,
utilizando em especial a psicologia cognitiva.
Nos
últimos quinze anos a Escola Cognitiva tem atraído grande número de
pesquisadores proeminentes, algumas vezes combinando princípios de outras
escolas. Lyle sugeriu em pesquisa de 1990, que esta era uma das áreas mais
populares de pesquisa em administração estratégica. Antes desta onda de
trabalho, o que ocorria nas mentes dos executivos era, em grande parte, uma
incógnita. Os pesquisadores estavam mais preocupados com os requisitos para
pensar e não com o pensamento em si, por exemplo, com o que um estrategista
precisa saber.
Assim,
os estrategistas são, em grande parte, autodidatas: eles desenvolvem suas
estruturas de conhecimento e seus processos de pensamento principalmente
através de experiência direta.
Premissas
da escola cognitiva
A
escola cognitiva é uma escola de pensamento em evolução sobre formação de
estratégia.
Suas
premissas são:
1.
A formação de estratégia é um processo cognitivo que tem lugar na mente do
estrategista;
2. As estratégias emergem como perspectivas, na forma de conceitos, mapas,
esquemas e molduras, que dão forma à maneira pela qual as pessoas lidam com
informações vindas do ambiente;
3.
Essas informações fluem através de todos os tipos de filtros deturpadores,
antes de serem decodificadas pelos mapas cognitivos;
4.
Como conceito, as estratégias são difíceis de realizar em primeiro lugar.
Quando são realizadas, ficam consideravelmente abaixo do ponto ótimo e,
consequentemente, são difíceis de mudar quando não mais são viáveis.
Processo
de tomada de decisão
Observa-se
que os principais estudiosos desta escola, voltaram sua atenção para
características individuais dos estrategistas, principalmente quanto ao
processo de tomada de decisão e destacamos a tentativa de explicar as
distorções que eles apresentam. Sem exceção, constataram consequências óbvias
para a geração de estratégias. Dentre essas consequências estão à busca por
evidências que apoiem as crenças, em vez negá-las; o favorecimento de
informações recentes, mais facilmente lembradas, sobre informações anteriores;
a tendência para ver um efeito causal entre duas variáveis que podem
simplesmente ser correlatas; o poder do pensamento otimista e assim por diante.
Analogias e metáforas que podem abrir o pensamento e que também podem fazer o
contrário, simplificando em excesso e, com isso, estreitando a gama de soluções
consideradas (Schwenk, 1988 e Stembruner, 1974). Duhaime e Schwenk (1985)
estudaram como estas e outras distorções podem afetar as decisões de aquisição
e alienação:
1.
Raciocínio por analogia;
2. Ilusão de controle;
3. Aumentar o comprometimento;
4. Cálculo de resultado único.
Não
existe falta de evidências a respeito de organizações que ficaram presas a
maneiras fixas de fazer as coisas, baseadas em maneiras fixas de vê-las e, a
seguir, desceram em espiral à medida que o mundo à sua volta mudava.
Cognição
como processamento de informações
Os
altos executivos dispõem de tempo limitado para acompanhar e supervisionar um
grande número de atividades. Em função disso, grande parte das informações que
recebem deve estar agregada, a consequência é o acúmulo de distorções sobre
distorções. Dada essa situação, muitos altos gerentes se tornam prisioneiros de
suas organizações de processamento de informações. O processamento de
informações começa com atenção, prossegue com codificação, passa para
armazenagem e recuperação, culmina na escolha e conclui pela avaliação de resultados.
Cognição
como mapeamento
Um
pré-requisito essencial para a cognição estratégica é a existência de
estruturas mentais para organizar o conhecimento. Mapa é um rótulo atualmente
popular, talvez devido ao valor metafórico. Ele significa a navegação através
de terreno confuso com algum tipo de modelo representativo. Com o mapa na mão,
não importa o quanto ele seja grosseiro, as pessoas codificam aquilo que veem
para que e conforme o máximo possível com o que está no mapa. Este prefixa as
percepções delas, que veem aquilo que esperam ver. Porém, à medida que se
acumulam as discrepâncias, elas prestam mais atenção ao que está em sua
experiência imediata, procuram padrões e prestam menos atenção ao mapa.
Os
responsáveis pela decisão têm certas expectativas associadas a um determinado
esquema. Aquilo que eles veem acrescenta detalhes a essas expectativas e produz
novas perguntas. Qual a evolução provável dos preços? As pessoas irão recorrer
à eletricidade para aquecer suas casas? Observe que essas perguntas podem
emergir quase que automaticamente do esquema. É isto que os faz eficientes do
ponto de vista de processamento das informações.
Todos
os executivos experimentados carregam em suas mentes todos os tipos desses
mapas causais ou modelos mentais, como eles são às vezes chamados. E seu
impacto sobre o comportamento pode ser profundo.
Cognição
como “realização de conceito”
A
maneira pela qual os gerentes criam seus mapas cognitivos é fundamental para a
compreensão da formação de estratégia. Fundamentalmente, deve-se entender a
estratégia como um conceito; sendo assim, utiliza-se uma antiga expressão da
psicologia cognitiva para a compreensão da formação de estratégia como sendo a
"realização de conceito". A essência da intuição está na
organização do conhecimento para a rápida identificação ("arranjo de
termos em partes reconhecíveis") e não na apresentação desse conhecimento
para um desígnio inspirado. A fonte de inspirações pode ser misteriosa. Assim,
a escola cognitiva, embora seja potencialmente a mais importante das dez, em
termos práticos pode ser agora a de menor importância.
Cognição
como construção
Para
a visão interpretativa e construcionista, aquilo que está dentro da mente
humana nem sempre é uma reprodução do mundo externo. Todas as informações que
fluem através daqueles filtros, supostamente para serem decodificadas por
aqueles mapas cognitivos, na verdade interagem com a cognição e são por ela
moldadas. Esta visão tem implicações radicais, pesquisadores que a defende
são chamados "construcionista sociais", eles rompem decisivamente com
a tendência generalizada de aceitar aquilo que as pessoas veem como um dado, de
atribuir ao “status quo” uma
inevitabilidade lógica. Para eles, a realidade existe na cabeça de cada um. Estudos
apontam distinções entre o esquema, que pertence essencialmente ao indivíduo, e
as molduras, que pertencem ao grupo. O esquema depende daquilo que o indivíduo
vê e daquilo que acredita, enquanto que a moldura, depende de dinâmicas
grupais, das relações dos indivíduos entre si e com o grupo.
Conclusão: A Escola Cognitiva é caracterizada
mais por seu potencial do que por sua contribuição. A ideia central é válida,
pois o processo de formação de estratégia também é fundamentalmente de
cognição, particularmente na realização das estratégias como conceitos. Mas a
administração estratégica, na prática, se não na teoria, ainda precisa ganhar o
suficiente da psicologia cognitiva. A despeito de todos os comportamentos
estratégicos estranhos que ocorrem, inclusive a "letargia
estratégica" de gerentes sobrecarregados, que simplesmente desistem de
tentar desenvolver estratégias, alguns deles conseguem dar notáveis saltos de
cognição. Essa escola também chama a atenção para determinados estágios do
processo de formação de estratégia, em especial: (a) períodos de concepção
original de estratégia; (b) períodos de reconcepção das estratégias existentes;
e (c) períodos de apego, às estratégias existentes, devido a fixações
cognitivas. No entendimento dos autores, é de extrema importância, entender a
mente e o cérebro humano para compreender a formação de estratégia. Por outro
lado, entendem também que essa compreensão, pode ter implicações mais
importantes para a psicologia cognitiva, como fornecedora de teoria, do que
propriamente para a administração estratégica, como sua consumidora.
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