Em tempos de crise, conciliar a
visão estratégica com dificuldades econômicas é um dos grandes desafios do
mundo corporativo. Há empresas que aceitam cortar custos essenciais à
preservação da sua marca e reputação no mercado (como verbas publicitárias, por
exemplo) para ter ganho de caixa imediato. É uma das situações em que a
expressão “miopia corporativa”, cada vez mais em voga, é utilizado no ambiente
empresarial.
A incapacidade de aceitar
notícias ruins e se preparar para enfrentá-las é abordada por Richard S.
Tedlow, professor da Harvard Business School, no livro Miopia Corporativa: como
a negação de fatos evidentes impede a tomada das melhores decisões e o que fazer
a respeito (HSM Editora). O autor explica
como executivos de sucesso e com longa trajetória podem não enxergar perigos
iminentes.
Segundo André Castro, diretor da
HSM Educação, alguns fatores contribuem para essa miopia e um deles é a
arrogância: “O líder muitas vezes se recusa a reconhecer que, em determinado
momento, o planejamento traçado estava equivocado. Dependendo da carreira e das
vitórias obtidas no passado, ele pode deixar a humildade de lado. E também,
muitas vezes, o mundo corporativo se coloca contra a autocrítica”, observa
Castro, após ter lido o trabalho de Tedlow.
Do ponto de vista do autor,
existem diferentes facetas que podem levar à miopia corporativa. Também
acontece a incapacidade de perceber para que direção o vento do mercado vai
soprar e, com isso, deixa-se de aproveitar oportunidades de ouro. A pena, neste
caso, é ficar para trás em relação a outras empresas.
Casos abordados no livro
O livro abre a narrativa de casos
de negação na história das corporações com a muito conhecida história de Henry Ford, já
definido como o “homem mais polêmico de seu tempo” e sua insistência em negar a
possibilidade de haver, por parte do consumidor, a necessidade ou busca por um veículo
diferente do seu Ford T. Essa negação, que durou muitas década, quase levou a
Ford Motor à falência.
Não se trata de simplesmente
manter pensamentos positivos ou de seguir qualquer mantra de livros de auto
ajuda para executivos. Apesar de ser uma visão presente, sempre pensar no
sucesso e ter fé que o caminho traçado vai terminar na estrada do sucesso pode
fazer com que uma empresa inquestionavelmente líder em um setor da economia
perca a condição hegemônica.
Para Castro, da HSM Educação, é
preciso ter quase uma paranóia produtiva: “Sempre ter na cabeça que algum
concorrente pode estar prestes a lhe quebrar. Não é discussão entre velha
guarda e nova guarda. É ter, sim, aguçado senso crítico e possuir cultura
organizacional que incentive a melhoria contínua e verdade o tempo inteiro”,
analisa.
Usar uma lente contra a miopia
corporativa é enxergar as oportunidade que surgirem e não simplesmente se acomodar
no lugar ocupado. Em síntese a obra de Tedlow trata da capacidade das empresas
de perceber tendências e evitar a repetição de erros célebres cometidos por
excesso de confiança ou medo. Para ele, esse tipo de erro sempre aconteceu e
continuará acontecendo, principalmente para quem não absorver as lições.
Análise do Blog
Li e recomendo essa obra que, em
minha opinião, deveria ser o livro de cabeceira de muitos executivos, CEO’s e
proprietários de pequenas, médias e grandes corporações. Concordo com o
conselho de Clayton M. Christensen, autor de “O dilema da inovação”, quando diz
que trata-se a obra de “Uma história real
e assustadora sobre nossa tendência para negar verdades incômodas. Reserve
algumas tardes de folga para ler este livro difícil de largar.” E concordo ainda mais com Jim Collins, autor de
Vencedoras por opção, Feitas para durar e Feitas para vencer, que ao se referir
à obra, arremata: “Tedlow combina rigor
histórico com insights para os líderes contemporâneos. Sua maior lição, que diz
que o caminho para o insucesso é quase sempre visível, desde que os líderes não
se neguem a vê-lo, deveria ser conhecida por todas as pessoas bem-sucedidas.”
Tenho a impressão que o fenômeno
da negação é algo para ser levado em conta por todas as pessoas, quer sejam profissionais
ou não. Na verdade, na vida pessoal, familiar ou nos relacionamentos humanos a
negação pode ser um grande problema que apenas adia as consequências.
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